Valeu a pena o sacrifício?














"Foram quatro anos de intervenção externa para pôr as contas em dia. Os portugueses pobres ficaram mais pobres, os remediados viram-se despromovidos à pobreza. Os ricos continuam a fazer fortuna. O quadro social é este. E não temos ainda as contas ajustadas.
É caso para perguntar: valeu a pena o sacrifício? Poderão os especialistas em economia e finanças afirmar que sim. E Maria Luís Albuquerque surgir na Europa como representante do país que fez tudo certo para equilibrar as Finanças. Os portugueses, certamente, respondem de forma negativa. A vida das pessoas desmente os especialistas, no minuto seguinte. Os juros da dívida, é certo, estão longe dos 9 por cento atingidos em 2011, o que levaria o ministro das Finanças de então a falar a um jornal para forçar o primeiro-ministro a pedir ajuda externa. O "deficit" baixou mas, apesar de todo o sacrifício, do verdadeiro massacre social, não atingiu os valores exigido por Bruxelas."




Valeu para a banca, sobretudo para a nacionalização dos seus prejuízos, bem como para os grandes tubarões do patronato.
Valeu para os fascistas ressuscitados.
Valeu para quem andou a vender o país a retalho, sobretudo a países cujos regimes são do mais execrável à face da terra, e a meter milhões em contas matreiras em não menos matreiros paraísos fiscais.
Valeu para quem tinha um ódio de estimação à função pública, aos reformados e pensionistas. 
Valeu para quem não descansou em tentar acabar com o sistema nacional de saúde, para o entregar nas mãos de cangalheiros privados.
Valeu para quem tudo fez por chacinar a classe média, tudo apostando na construção de grandes e escabrosos fossos entre os muito ricos e os muito pobres.
Valeu para esses que investiram no empobrecimento lícito, lançando areia para os olhos do cidadão menos atento ou acrítico com as manobras de diversão da penalização do enriquecimento ilícito.
Valeu para quem quis despedir em massa, chamando a essa política de terra queimada, despudorada e desumanamente, "requalificação" ou saída da "zona de conforto". Valeu para quem convidou a geração mais qualificada deste país a se abandonar a um destino involuntário e incerto da emigração, chamando a esse outro crime "janela de oportunidade".
Valeu, no fundo, para todos os "ratos de esgoto" de ideologia neoliberal e salazarenta roer os restos da nossa dignidade e orgulho nacional.
Valeu para quem nunca de nada valeu por absoluta destituição de valor e de valores. 
Para todos esses pulhas, com certeza, valeu! 







“Nem rei nem lei (…) Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”, já dizia Pessoa

“Nem rei nem lei (…) Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”, já dizia Pessoa