A moda e os ditadores

Não sei se é coisa para “pegar em moda”, mas alguns ditadores latino-americanos, de há uns anos para cá, deram em aparecer  vestidos com roupa indicada para a prática desportiva.
Refiro-me, obviamente, ao atlético fato de treino, em lugar do clássico  fato ou da indumentária militar.
No caso de Hugo Chavez, porventura o seu “criativo estilista” ou, quiçá, o seu “alfaiate de alta-costura” (ou os dois) inventaram o original, patriótico e elegantíssimo “fato de treino-bandeira”. Não juro, mas algo me diz que foi daqui que surgiu a ideia de usar o “pin” com a bandeira portuguesa na lapela nas fatiotas Versace do também saudosíssimo governo, dito democrata, de Passos Coelho.
Já algo dececionante foi o modelo alternativo do atual déspota Nicolás Maduro, conforme se pode apreciar  na imagem abaixo. Estou convencido de que o mundo da “alta-costura” esperava mais e … merecia mais.
Neste capítulo, Fidel Castro, outro insuspeito democrata, inicialmente não quis desapontar os seus “discípulos” ao optar por um fato de treino de uma conhecida marca desportiva decorada com as cores da bandeira cubana.
Obviamente sem quaisquer objetivos comerciais, mas tão-só em derradeira homenagem à alegadamente lucrativa associação entre Fidel e a marca, após a morte do histórico líder e ditador cubano, aproveitou para vender o seu modelo mais clássico, o fato de treino oficial castrista, ao simpático preço de 19 euros e 99 cêntimos em todas as lojas da Adidas. Uma verdadeira pechincha!!! 100% poliéster, resistente às lavagens, não amarrota, não torce e pode dar ao feliz utilizador a esperança de ser “manda-chuva”, no mínimo, durante  50 anitos de saudável e “musculada democracia”.
Como é sabido, estamos na “era do ginásio”. Seria, pois, absolutamente impensável os ditadores estarem  fora de moda ou de forma. Primeiro,”o chique a valer”! De restonos tempos que corremelegância e forma física é o que está a dar!
Apesar de tudo, temo que Castro possa ter dececionado alguns admiradores do seu muito variado guarda-fato ao envergar o fato de treino alternativo que mais abaixo se apresenta, com cores da bandeira da Finlândia ou da Monarquia. Estranha combinação! Finlândia, Monarquia e Fidel Castro na mesma  frase (não sei…) soa  algo bizarro.
Outra figura  proeminente da Democracia… Quem adivinha? Nem mais, Vladimir Putin. No caso vertente, a diferença é que o novo “czar” não se destaca  pelo que veste (como os mais conservadores tiranos Al-Assad, Andrzej  Duda, Viktor Orban ou Erdogan),  mas pelo que despe, dada a sua tendência naturista para aparecer de tronco nu nas fotos oficiais de férias, em práticas desportivas do género Survivor.
Kim Jong Un, também democratíssimo líder da Coreia do Norte, porém, é um caso de fashion à parte com os seus sapatos de plataforma, óculos XXL e fato de safari. Só para que conste, a liberdade do regime começa logo pelo vestuário, sendo sabido que é até um jurássico costume norte-coreano vestir as crianças com uniformes militares no aniversário, mais ou menos como quando as crianças ocidentais se vestem de super-heróis da Marvel nas suas festas.
Por último, Donald Trump, outro dos atuais tiranetes lunáticos (lunáticos é pleonasmo), é no mundo da  moda  um curioso “case-study”. Vista fato e gravata, fato de treino, fato de safari, ponche boliviano ou exiba o tronco nu, o que acaba inevitavelmente por saltar à vista na imagem de Trump é (para todos, menos para Melania Knauss-Trump) a sua impagável e surrealista trunfa  ruiva sempre com ar de quem atravessou, num Cadillac descapotável, um tornado no Illinois, Indiana ou Missouri, com indisfarçável aparência de maçaroca ao vento. Afinal, como diria George Bernard Shaw, “A moda, afinal, não passa de uma epidemia induzida”. Tal como os ditadores.

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“Nem rei nem lei (…) Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”, já dizia Pessoa

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