Há dias mundiais para todos os gostos, mas há alguns muito próximos do surreal, para não dizer mesmo do ridículo.
Ora vejamos algumas datas curiosas. No dia 1 de janeiro começamos o novo ano com o dia mundial da Paz. Porém, nem mesmo nesse dia há tréguas na barbárie e no ódio humanos.
A 6 de fevereiro temos outro dia mundial, daqueles que é um verdadeiro desafio ser capaz de conseguir ler sem rir, o Dia Europeu da Internet Segura. Como nos filmes, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
A 8 de março temos o Dia Internacional da Mulher, porventura inventado pelos machistas, pelos floristas ou pelos cobardes praticantes de violência doméstica. Quem as respeita, admira e ama não precisa de datas específicas para prová-lo.
A 2 de fevereiro comemora-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, data com uma designação algo infeliz, que me deixou a suspeita de que há aqui muito potencial para piadas do género “picante”. Já a 15 de março surge o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, todos os dias atropelado, contornado e violado, conforme provam os números da DECO.
21 de março é o Dia Mundial do Sono, o que me traz à retina conhecidos deputados virtuais, daqueles que fazem número no Parlamento, servindo apenas para bocejar, gritar “Apoiado”, “Muito bem! Muito bem!”, levantar-se para o voto, o cafezinho ou o chichi, para logo deixar-se cair nas “caminhas” a que chamam bancadas. Vá que também poderia perfeitamente ser comemorado a 27 de Março, Dia Mundial do Teatro e Dia Internacional do Circo. Atores e palhaços ricos não escasseiam por ali, salvaguardando-se, sublinho, algumas honrosas e muito respeitáveis exceções.
Continuando, a 3 de Maio temos o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, dia muito apropriado à realidade de países tão genuinamente democráticos como Angola, Venezuela, Rússia ou Coreia do Norte.
A 9 de Maio, curiosamente, celebra-se o Dia da Europa, aquela que atualmente já só existe no papel ou nos países do Norte.
Já o 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, e esta é uma proposta minha, não é festejável por quem teve a “brilhante” e muito “patriótica” lembrança de deixar de comemorar o nosso 1 de dezembro, dia da Restauração da Independência nacional. Cristo ressuscitou, mas, atenção, não foi o único. Há por aí muito traidor Miguel de Vasconcelos ressuscitado. Que diriam, por exemplo, os franceses ou os americanos se lhes retirassem o privilégio e a honra de celebrarem a independência?
E como esquecer o 27 de Outubro, Dia Nacional da Desburocratização, talvez só assinalável em Marte…
A 13 de maio cai o Dia Internacional do Comércio Justo. É dia de Nossa Senhora de Fátima, logo é tudo uma questão de fé, que não de racionalidade.
A 4 de junho assinala-se o Dia Internacional das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão, o que diz muito a pais broncos, pedófilos incuráveis e a muito sacerdote só de nome.
A 20 de junho temos o Dia Mundial dos Refugiados, que, dramaticamente, pelas piores razões e responsáveis, vai tendo lugar todos os dias.
A 8 de Setembro comemora-se o Dia Mundial da Alfabetização, não aplicável a “doutores” como o senhor Relvas ou a engenheiros com “licenciaturas” de fim de semana.
A 4 de outubro chega o Dia Mundial do Animal. Pergunto-me se será que se trata do Animal, homem ou mulher, que maltrata os bichinhos?
E que dizer de 16 de setembro – Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono?
Como preservar? Fácil! É só celebrar o 22 de Setembro, Dia Europeu sem Carros, e resolve-se a questão num ai.
A 31 de outubro calha-nos o Dia Mundial da Poupança, dedicado sobretudo a banqueiros, agiotas e intocáveis empresários que deslocalizam as suas empresas e protegem-se de impostos em paraísos fiscais.
Finalmente, a 25 de novembro, vem chocar contra a realidade o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A eliminação da violência, ditam infelizmente os horríveis números, é mesmo muitas vezes real, sobretudo quando os supostos companheiros acabam por lhes tirar a vida, depois de aqueles que as deveriam proteger terem feito pouco ou nada para o impedir.
Por último, no dia 3 de dezembro regista-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, o que poderá aplicar-se, do ponto de vista da saúde mental, aos condutores, ditos normais, que estacionam nos lugares reservados a pessoas a quem assiste esse direito.
No fundo, o dia 1 de abril, dia das mentiras, poderia aplicar-se com toda a propriedade à esmagadora maioria de todas estas datas, tantas vezes cheias de simbolismo, mas tantas vezes vazias de correspondência concreta.
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