“O dinheiro não tem cheiro”, diziam os romanos

O ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, vai ser o novo presidente do conselho de administração do Goldman Sachs International. Em inglês, “chique a valer”, Barroso será “chairman”..Resultado de imagem para durão barroso cherne
Ora, se dividirmos a palavra, literalmente, ficamos com “homem da cadeira”, e Barroso sempre sonhou com cadeiras, danças  de cadeiras e cadeirões de trono.
As portas-giratórias são também uma das suas especialidades. Sempre a somar… Ah, grande ex-MRPP!!!
Aos indefectíveis fãs, (os chamados “Je suis  Barroso”),  desaconselho o lançamento antecipado de foguetes, não vá gerar-se um incêndio nos seus resorts, com as temperaturas elevadas que por aí andam.
O ex-governante até já tinha revelado em entrevista à SIC que iria retirar-se da política ativa e que tinha recebido um convite. Melhor, “A cereja no topo do bolo” é que iniciará funções já a partir deste mês. O banco emitiu uma nota oficial onde confirma a contratação e demonstra confiança nas capacidades do português. “A sua perspetiva, capacidade de julgamento e aconselhamento vão trazer um grande valor ao nosso Conselho de Administração, aos nossos acionistas e aos nossos clientes”, pode ler-se na nota publicada no site da Goldman Sachs. Ou seja, é garantido que ninguém vai ficar “de tanga”.
Nada mais lógico, portanto, que este convite. É naturalíssimo  recrutar para as suas fileiras, uma figura ligada ao divino, como Barroso, que foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Faz todo o sentido…e, diga-se o que se disser, é óbvio que não há conflito de interesses…de espécie alguma.
Proferiam os latinos a certeira frase “pecunia non olet” (o dinheiro não tem cheiro), o que só vem provar que finança e política cheiram demasiadas vezes ao mesmo. Calma, não vá alguém ficar com ideias esquisitas. Barroso será apenas presidente NÃO-executivo, alegadamente um prémio, como contrapartida de serviços que fez quando era, alegadamente, o lacaio de Bruxelas.
O bom, sábio e velho Salazar, de que tanto fascista travestido de democrata vive saudoso, é que lá tinha a sua razão com o curioso aforismo: ” Em política o que parece é “.
Passemos um olhar sumário ao historial de Barroso. Na qualidade de presidente da Comissão não teve qualquer projeto político decente. Abandonou o cargo com uma pensão vitalícia de 132 mil euros por ano, o equivalente a 11 mil euros por mês (notícia do «Daily Mail»), mais um subsídio de «transição» e de «reintegração» durante os próximos 3 anos, que pode chegar aos 200 mil euros, por cada ano, para além de um salário extra de 25 mil euros, mais despesas de deslocação. Parafraseando Miguel de Sousa Tavares, “Um inútil bem pago”, agora, ainda por cima, beneficiando da tradicional promiscuidade de cargos públicos e privados com um belíssimo tacho na tenebrosa Goldman Sachs.
Só de passagem, recorde-se que a Goldman Sachs foi a entidade que ajudou a maquilhar as contas gregas, com os resultados que se conhecem. Em 2001, perante graves problemas financeiros, e a necessidade de respeitar o Tratado de Maastricht que exigia que todos os membros da zona do euro mostrassem melhorias nas contas públicas, a Grécia pediu ajuda à Goldman Sachs. Esta emprestou àquele país 2,8 mil milhões de euros através de um esquema financeiro complicadíssimo, disfarçado de swap cambial não contabilizado, de modo que a dívida da Grécia em moeda estrangeira foi convertida em obrigações em moeda local, utilizando uma taxa de câmbio fictícia. Consequentemente, 2% da dívida da Grécia subitamente desapareceram das contas. Pelos “favores”, a Goldman cobrou 600 milhões de euros. Por curiosidade, à época, o vice-presidente para a Europa da Goldman Sachs era… Mario Draghi, atual presidente do Banco Central Europeu. Coincidências.
A verdade, cada vez mais cristalina nos tempos negros que vivemos, é que são as instituições privadas, que nunca se submetem a sufrágios eleitorais, a mandar nos poderes públicos, mesmo nos eleitos.
Dito de outra maneira, a promiscuidade perdeu todo o descaramento, e começa a ser tão transparente que as pessoas parecem já aceitá-la, de braços caídos, com espantosa naturalidade.
No entanto, estar na gestão da coisa pública e transportar para privados a informação privilegiada ganhou foros de vulgaridade, reduzindo a zero o valor da democracia, ou seja, são os privados não eleitos a mandar nos públicos eleitos.
Tal como se passou com Paulo Portas, outro “edificante exemplo” da centenária amizade CDS-MPLA, Barroso esteve em licença sem vencimento na CE e agora volta para os seus patrões de sempre. A pergunta que se deve fazer é a seguinte: Como é que um antigo maoista convicto passa a marquês, faz as vezes de mordomo na Cimeira dos Açores, e termina como tecnocrata europeu?
Juncker, só depois de forçado por Emily O` Reilly, já deu ordens para que o ex-presidente da Comissão Europeia seja tratado como qualquer outro lobista.
Durão Barroso vai tornar-se, assim, no primeiro ex-presidente da Comissão Europeia a ver retirados os chamados “privilégios de passadeira vermelha” por Bruxelas, na sequência do cargo que ocupa na Goldman Sachs, avançou o jornal Financial Times. Mas não há chatice. Vai à passadeira vermelha da SIC, que é quase a mesma coisa.
Goldman Sachs, só por acaso, esteve no centro da crise do subprimes, uma das maiores crises económico-financeiras mundiais de todos os tempos.
Até  para o Presidente francês, François Hollande, que também não é grande espingarda moral ou ética, a atitude de Barroso “moralmente é inaceitável”. Não sei se alguma alma inocente esperava, em lugar da passadeira vermelha, uma carpete de brasas misturadas com vidro e pregos… Se assim era,  santa ingenuidade!
Quanto a Juncker, também não tem pouco que se lhe diga. Então não é que aquilo lá no Luxemburgo é uma seriedade, começando pela lavagem de dinheiro e branqueamento de capitais?
Será que o único «país» europeu de jeito foi a Grã-Bretanha, por ter deixado estes cretinos a falar sozinhos? A Islândia, o paradigma, de que tão pouco se fala, é que lhe oferecia de bom-grado uma passadeira vermelha, daquelas de lava vulcânica, de um vermelhusco incandescente.
Já Maria Luís Albuquerque, jurou a pés juntos que “nunca tinha ouvido falar” da Arrow Global, antes de dezembro de 2015, quando foi convidada a assumir um cargo na financeira londrina. Confesso que, inicialmente, até pensei que Arrow era aquela série da TV Cabo ou que a Mota-Engil era uma espécie de Autoeuropa, mas de montagem de motorizadas italianas? Críticas, disse em entrevista à RTP Maria Luís, são baseadas em “populismo e má-fé”. A ex-ministra das Finanças até realçou que “ética não é questão de número de anos”. Ou seja, a ética não é uma questão geracional…
Maria Luís Albuquerque inicia as funções de administradora não executiva na gestora britânica, um cargo que causou polémica, já que a antiga ministra das Finanças pretende continuar a exercer o cargo de deputada. Nada de ilegal apurado. Porém, convém reconhecermos que lei e justiça não são forçosamente a mesma coisa. Maria Luís vai trabalhar em média dois a quatro estafantes dias por mês e terá que estar presente em 10 reuniões por ano, em que a Arrow Global reune todos os administradores para receber uns míseros 70 000 euros anuais. A estas verbas a antiga ministra junta os mais de três mil euros de salário de deputada e 25 euros por dia para ir trabalhar ao parlamento. Uma razia!
Seja como for, é comovente a moralidade invocada por Maria Luís. Em bom rigor, nâo tem rendimento para pagar a renda, pelo que necessita de um segundo emprego. Seguindo o conselho de Passos Coelho, Maria Luís não foi “piegas” e emigrou para Manchester, como os 25% de portugueses que andavam a contar cêntimos como ela, e precisam de um segundo salário no estrangeiro.
A antiga detentora da pasta das Finanças acrescentou que não vê qualquer incompatibilidade legal nem ética em trabalhar para a empresa porque, reitera, a ética “não é uma questão de tempo”, mas sim de “comportamento constante”. “Se em algum momento eu tivesse, por algum ato enquanto governante, dado a esta empresa algum tipo de tratamento privilegiado ou algum tipo de benefício, eu não iria  trabalhar para esta empresa nem daqui a um ano, nem daqui a três, nem daqui a cinco, nem daqui a seis”, afirmou. E o Pinóquio assinou imediatamente por baixo. Afinal, para alguns políticos ou partidários das patrióticas causas “Je suis Maria Luís”, ou “Je suis Durão Barroso”, a ética tem prazo.

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“Nem rei nem lei (…) Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”, já dizia Pessoa

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